17 de jun. de 2012

tem coisas que a gente não faria no brasil nunca, nem na maior das loucuras.
pois bem, hoje eu fiz uma.

saí do pub as 4 da manhã, cansada, estressada e sem a grana para o taxi. pensei "me ferrei, terei de voltar a pé para casa". levando em conta que estava amanhecendo, não seria de todo ruim. sábado, amanhecendo e todas as pessoas na rua saindo das baladas... ok.
acontece que alguém me chamou, falando português e eu atravessei a rua. estava sem óculos, não vi quem era, mas imaginei ser algum conhecido.

não era.

era um brasileiro qualquer, como muitos que encontramos pelo caminho, sentado num banco com um irlandês, batendo um papo furado, fumando o último cigarro da noite.
um irlandês um tanto fora do convencional, de calça militar, cabelo spike e jaqueta de couro.

sentei.

ficamos trocando uma idéia quando a menina que fica tocando na rua, na frente do pub chegou. o tal irlandês disse que a levaria em casa e que já voltava para concluir o assunto.

esperamos.

por que? excelente pergunta... a resposta eu não sei.
ele voltou depois de uns 10 minutos e sentou novamente. ficou ali contando as histórias malucas sobre sua volta ao mundo. 
minutos depois chega outro irlandês, bonito, bem vestido e faz uma piada de muito mal gosto e preconceituosa, se referindo ao estilo diferente do menino.
o brasileiro foi embora, mancando coitado. estava de muletas.
e eu e o irlandês ficamos ali, sentados.
tivemos uma conversa tão bonita, tão sincera e intensa que nem vi o tempo passar. 

já era dia.

ninguém mais na rua. achei melhor ir embora. e ele mais do que simpático perguntou se poderia me acompanhar, pois seria perigoso. estando com ele ninguém chegaria perto, afinal as pessoas tem mais medo dele do que ele dos outros.

viemos. 

me acompanhou até a porta de casa. no caminho achou 5 euros no chão. me deu um abraço, me disse que ficou impressionado com minha simpatia e falta de preconceito, pois em nenhum momento me mostrei distante com relação ao que ele falava.
perguntou se eu era solteira e a resposta (in)felizmente foi um 'sim'. ele disse que achava isso normal, afinal, onde eu encontraria alguém que me tratasse bem, que me desse valor e atenção e que eu me sentisse livre para ser quem eu quiser, sem pré-julgamentos.

foi-se.

foi embora me desejando um bom domingo e que se fosse pra ser, nos esbarraríamos por aí, em algum canto de dublin, antes que ele fosse embora para outro país maluco tentar ser livre no mês que vem.
ele não estava bêbado, não estava drogado. só queria atenção de alguém que não o tratasse como aberração.

nomes? não sabemos um o do outro.
ah, e o irlandês arrumadinho foi preso três quadras à frente.

3 comentários:

Carol SantAna disse...

Muito bacana, Cris.

Mr. Lemos disse...

As pessoas dessa ilha são especiais. Não só os irlandeses. Adorei o encontro! Muito bom mesmo!
Beijos

Marta Alica disse...

Eu gosto de conversar com estranhos, sempre temos algo para aprender, ou algum gesto de carinho para oferecer.